Lanço meus pensamentos ao
passado, não há muitos anos quando ainda na minha infância vivia com minha avó,
cidade pequena com costumes humildes, uma vida simples, porém muito feliz e uma
coisa que raramente eu via naquelas redondezas era copo e prato descartável.
Talvez esteja achando estranho eu
falar sobre copo e prato descartável, mas a falta disso tornava comum a pratica
de lavar pratos e copos com dedicação e carinho, principalmente em épocas
festivas onde toda a família se reunia, aqueles copos lindos que até então
ficavam na caixa o ano todo, nesta data teriam finalmente seu primeiro uso, todos se
sentavam juntos, conversavam e depois as mulheres costumavam ir para a cozinha
(não que homem não pudesse fazer isto) e juntas lavavam tudo, enquanto
conversavam e brincavam, uma cena linda de se ver, momento único e especial em
uma reunião de família.
O tempo passou, conheci então os
copos e prato descartáveis, as reuniões em família ainda existem, mas aqueles
copos especiais permanecem no armário, quando eles ainda existem, durante a
refeição cada um encontra o seu canto e na maioria do tempo em silencio come
rapidamente, joga os descartáveis no lixo e dedicam o resto do tempo a
televisão, celular, computador ou qualquer outro artigo eletrônico, a conversa
alta na cozinha acompanhada de gargalhadas não é mais ouvida, as brincadeiras
até parecem que nunca existiram, junto com os descartáveis parece também que
foram descartadas.
Não deveria ser assim, os
descartáveis deveriam surgir na intenção de termos mais tempo para nos
alegrarmos uns com os outros, de sair juntos, brincar na rua não se importando
com a idade, peso, tamanho, cor... Fizemos tantas coisas para que o tempo fosse
otimizado, para que a vida ficasse mais fácil e rápida, mas parece que essas
nos fizeram esquecer de como é viver, descartamos o amor, o afeto, o
companheirismo e tudo para viver uma vida de correria atrás do vento, para
estarmos conectados com o mundo e descartamos quem está ao lado.
Por favor levem os descartáveis e
me devolvam as belas criações de porcelana com aqueles desenhos que nos faziam
sonhar e os deslumbrantes cristais os quais junto com nossos olhos brilhavam e
nos faziam lembrar que as coisas mais belas da vida são delicadas, necessitam
de cuidado e dói pensar em descarta-las.
Autor:
Maicon Tiago
Este texto foi um dos selecionados no 3º Prêmio Escriba de Crônicas2017, para compor a coletânea do concurso. Para conhecer as outras obras do autor click na imagem abaixo:
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